O que se passa com um país onde a maior parte dos jovens que entram o mercado de trabalho, não conseguem perspetivar um início de vida autónomo, constituir família e uma carreira com filhos? O que se passa com um país onde a alternativa para os jovens que integram o mercado de trabalho é viverem os sete anos seguintes em casa dos pais? O que se passa com um país, teoricamente desenvolvido, onde a taxa de natalidade é baixa? O que se passa com um país onde a diferença salarial é a mais baixa de sempre entre jovens com ensino secundário e superior? O que se passa com um país que é apontado como um dos países com maior escassez de talento qualificado do mundo, mas tem das melhores universidades, politécnicos e forma profissionais de alta qualidade reconhecidos a nível internacional? O que se passa com um país que tem tido um forte interesse, investimento e até integração de várias multinacionais, mas continua a não conseguir reter a maior parte do seu capital humano qualificado?
Portugal é um dos maiores distribuidores de talento qualificado a nível internacional. Um país que, para além da forte carga fiscal que tem, vivenciou nos últimos meses uma subida brusca da inflação, um aumento das taxas de juro e continua a praticar salários que não acompanham a realidade atual da maior parte dos portugueses.
O que faz uma Europa em crise e com escassez de talento qualificado? Vem a Portugal recrutar, ao país dos profissionais de excelência, com salários baixos.
Sem darmos conta, vamos perdendo os melhores profissionais de tecnologias de informação, facilitado agora pelo trabalho remoto. Estamos progressivamente a deixar sair os nossos engenheiros, gestores, especialistas financeiros, profissionais de saúde, investigadores e técnicos especializados. Estamos a falar dos principais pilares do equilíbrio empresarial e económico do nosso país.
Um país com tanto potencial, mas que continua a ignorar os indicadores e tendências de mercado. Estamos progressivamente a ficar sem talento, e muito pouco tem sido feito para inverter a situação.
Não nos enganemos. O salário interessa e, mais do que nunca, é um dos principais factores de atracção e retenção em Portugal.