Nos últimos dois anos, assistimos a enormes mudanças na indústria das ciências da vida. Com a tecnologia a evoluir a um ritmo acelerado e a transformar os ensaios clínicos, em particular, podem as competências necessárias ser mais facilmente encontradas em candidatos de fora do setor? Os nossos especialistas pensam que sim.
A pandemia veio revolucionar a forma como os ensaios clínicos são geridos. Os ensaios virtuais descentralizados tornaram-se mais generalizados, oferecendo uma redução de custos, maior agilidade e facilidade de recrutamento de pacientes. Os benefícios de continuar com os ensaios remotos são bastante convincentes, e mais de dois terços das empresas europeias no setor das ciências da vida planeiam conduzir ensaios desta forma nos próximos três anos.
Mas, para isso, é necessário um conjunto de competências associadas, e nem todas elas são especialidades das ciências da vida. Os recrutadores da Kelly especialistas na área das ciências da vida constataram um aumento na procura de candidatos com experiência digital.
Conduzir ensaios online ou de uma forma distribuída pode exigir competências como o desenvolvimento de apps e design UX para garantir que os participantes conseguem monitorizar-se de uma forma fácil e eficaz. Ou em tecnologia “wearable”, para realizar a monitorização sem depender dos registos dos participantes. Há também que tratar da produção dos formulários eletrónicos de consentimento e da gestão de segurança dos dados digitais. Finalmente, a gestão de ensaios digitais/distribuídos exigirá competências digitais especializadas de gestão de projeto. Parecem muitas competências novas a adquirir, mas pode encontrá-las noutras indústrias, ou procurar os muito requisitados profissionais com uma experiência que combina as ciências da vida e a tecnologia dominante.
A transição para o trabalho remoto veio aumentar a nossa capacidade de colaborar com pessoas internacionalmente, quer sejam nossos colegas de empresa ou equipas pertencentes a outras empresas. De facto, quase metade dos medicamentos em estágio final de desenvolvimento em 2021 foram o resultado de colaborações e parcerias.
Esta nova forma de trabalhar oferece inúmeras oportunidades, mas também exige um novo conjunto de competências. Vai precisar de líderes que consigam inspirar e motivar as equipas mesmo à distância, comunicadores que saibam fazer-se ouvir em diferentes regiões, e gestores de projeto flexíveis que possam trabalhar em diferentes fusos horários. Felizmente, é possível encontrar indivíduos com experiência em liderança, comunicação e gestão de projeto em praticamente qualquer indústria, por isso pondere lançar a rede para lá da sua habitual zona de pesca para “apanhar” candidatos talentosos para estas funções.
Há anos que se fala da utilização de AI e Big Data, mas estas tecnologias estão finalmente a ser postas em prática em grande escala. Com aplicações no desenvolvimento de medicamentos, I&D e regulamentação/conformidade, o investimento em AI está a crescer, apesar da incerteza económica dos últimos dois anos.
Os estudos sugerem que a utilização de AI na saúde (na Europa) pode salvar mais de 400.000 vidas, poupar 200 mil milhões de euros e quase 2 mil milhões de horas de profissionais de saúde/médicos por ano. Aproveitar esta oportunidade vai exigir competências e experiência muito para além do seu habitual banco de talento. Será eventualmente útil dar formação na área das ciências da vida a cientistas de dados contratados de outras disciplinas, para assim lhes permitir crescer na sua empresa.
Muitos destes candidatos virão de indústrias relativamente técnicas, como start-ups, instituições financeiras e por aí fora. Um cargo no setor das ciências da vida oferece-lhes a capacidade de pôr em prática as suas competências ao serviço da humanidade, e nos dias de hoje o apelo deste propósito não pode ser subestimado. A pandemia veio inspirar uma nova consciência e respeito pelas carreiras das ciências da vida.
Enquanto setor em ascensão com novos e empolgantes desenvolvimentos a ocorrer diariamente, a promoção destes cargos não deverá ser difícil. O mais difícil será fazê-los chegar a um público mais vasto do que o normal; isto pode ser exigente, mas as competências que procura existem algures por aí, e a concorrência também está à procura delas.
Também pode procurar dentro da organização. Muitos trabalhadores das ciências da vida têm uma experiência relevante e podem ter competências complementares que desconhece. Criar uma biblioteca de competências para a sua organização pode ajudá-lo a descobrir linguistas, designers, gestores de projeto e muito mais, tudo dentro do seu próprio ecossistema. Numa altura em que a retenção é difícil devido ao volume de oportunidades disponíveis, oferecer variedade ou formação pode ajudá-lo a manter os seus melhores funcionários.