Mais importante do que ter tantos homens como mulheres nos quadros é promover a diversidade de perfis e cérebros humanos.
Falo da neuro diversidade, conceito definido para a inclusão de pessoas com fatores neuro biológicos diferentes, das quais fazem parte trabalhadores com necessidades especiais, mas tão válidos como os restantes.
Se olharmos para a informação institucional disponível sobre o tema, trabalhadores com transtorno do espectro do autismo, por exemplo, revelam características indispensáveis para qualquer empresa: altos níveis de concentração; atenção minuciosa sobre os detalhes, persistência acima da média; skills técnicas detalhadas e muito aproveitadas em áreas como o IT e ainda excelente memória.
Tendo em conta que estas características são comuns à maioria dos anúncios de emprego, e que a digitalização empresarial é um processo on-going e crescente, esta é também uma boa oportunidade para as empresas responderem a um dos desafios do nosso tecido empresarial: o de ser multifacetado, englobar profissionais com backgrounds e particularidades neuro biológicas diferentes que, no seu todo, dotam as empresas de novas skills e abordagens para enfrentar os desafios que enfrentam.
É certo que este é um grupo de profissionais extremamente ostracizado (em 2019, na Alemanha, a taxa de desemprego para as pessoas do espectro do autismo era superior a 80%), mas o que está em causa não é caridade – é sim uma sugestão às empresas para apostarem na sua própria diversidade e adaptarem-se à sociedade no seu todo e não apenas a parte dela.
Incluir pessoas neuro divergentes tem implicações, é certo. As instalações e condições de trabalho não podem ser iguais para todos, muito menos os métodos de avaliação feitos pelos departamentos de Recursos Humanos. Mas até que ponto essas reformas não são uma oportunidade para humanizar as nossas empresas, em vez de as industrializar?
Artigo de opinião, Jornal Expresso, Março 2021