Numa altura em que, segundo os empregadores nacionais, preencher as ofertas de trabalho não tem sido tarefa fácil, tem crescido a importância dos benefícios extrassalariais, mas também do alinhamento entre os valores das empresas e os dos candidatos, na atração e retenção de talento. E que as pessoas têm, cada vez mais, interesse em trabalhar “em locais com os quais se identifiquem”, salienta Rita Simões, da Kelly Services, que frisa que isto tanto se aplica aos trabalhadores recrutados por cá, como àqueles que as empresas tentam ir buscar lá fora.
“A escassez de mão-de-obra não é novidade, mas tem vindo a agravar-se. Por exemplo, na indústria, já antes da pandemia era muito difícil encontrar mão-de-obra, mas com a Covid-19 os candidatos desapareceram e não voltaram a aparecer”, explica a especialista, que considera que a escassez de recursos humanos é transversal a todos os setores. Rita Simões adianta que, perante este cenário, os candidatos tendem agora a valorizar não apenas o salário, mas também os benefícios extra e os valores defendidos pelos empregadores. Por exemplo, “cada vez mais, os candidatos valorizam o tempo”, isto é, a conciliação da vida profissional, pessoal e familiar, procurando preferencialmente vagas com modelos híbridos (entre o trabalho presencial e o trabalho remoto) ou, pelo menos, com alguma flexibilidade nos horários. Mais, sublinha a especialista, tem crescido a importância dos valores das empresas, nos processos de atração e retenção de talento. Por exemplo, as preocupações com o ambiente e com a saúde mental são, cada vez mais, valorizadas por quem está à procura de um novo emprego. “ Kelly Services, temos consultas de psicologia grátis e vemos, cada vez mais, clientes nossos a terem também essa preocupação”, adianta.
Por outro lado, é importante explicar que os pacotes de benefícios extrassalariais têm também ficado mais flexíveis, ajustando-se às necessidades de cada trabalhador. “Por exemplo, se tiver filhos, o mais importante pode ser ter creche e seguro de saúde, mas, se calhar, se tiver 20 anos o mais importante é ter um livre-trânsito no ginásio. O que muitas empresas estão a adotar são pacotes flexíveis”, avança Rita Simões.
A propósito, Ana Morais, da Urban Sports Clubs, uma empresa que disponibiliza subscrições desportivas que permite aos membros treinarem em vários espaços com uma única assinatura, sublinha que as pessoas têm procurado “tudo o que as empresas podem fazer por elas, para além da retribuição”, nomeadamente no que diz respeito ao bem-estar. “Este tipo de subscrições, que são contínuas e focadas em saúde e bem-estar, têm cada vez mais preponderância na atração e retenção de talento”, assegura a representante desta empresa alemã, que chegou a Portugal em 2019. Neste momento, 70 empresas sediadas por cá já disponibilizam esta subscrição desportiva aos seus trabalhadores (pagando a mensalidade na íntegra ou parcialmente) e “todos os meses chegam empresas novas”, indica a responsável. “Uma tendência que vemos é a adesão de startups e tecnológicas”, precisa.
Perante a escassez de talento, as empresas portuguesas têm também aproveitado os programas de formação para dar novas competências a trabalhadores desempregados, adianta Rita Simões. “Existem parcerias com pessoas que estão desempregadas, que se propõem a fazer esses cursos de reskilling e upskilling, e depois encontram empregabilidade a 100% [na área da tecnologia]”, remata.