O futuro dos jovens que trabalham em Portugal é um tema complexo — diria até sensível — e que requer reflexões ao nível laboral, económico e cultural. Dados do Eurostat publicados em outubro, reportando a 2021, revelam que a percentagem de população sem trabalho entre 15 e 29 anos, em Portugal, era de 15,9%, 2,9 pontos percentuais acima da média europeia. O mesmo relatório revela também que a percentagem de jovens que, nesse ano, recebia o salário mínimo era de 35,5%, quando em 2007 era de 18%.
Olhando para a relação entre a formação e a oferta laboral do mercado português, é inegável a existência de uma discrepância cada vez maior. Por um lado, formamos profissionais muito especializados, mas rapidamente absorvidos pela crescente oferta disponível. Por outro, temos profissionais de áreas menos científicas, já com experiência, mas obrigados a trabalhar em áreas diferentes, sujeitos aos salários que representam o seu sustento.
Esta é uma realidade que tende a acentuar-se e cuja necessidade de reformas capazes de inverter as tendências locais é urgente. O que pode um jovem com ambições esperar de Portugal? Ao dia de hoje, uma certeza: um custo de vida crescente e uma evolução da massa salarial que não o acompanha. Sem perspetivas de mudanças minimamente estruturais, teremos grandes êxodos de recém-licenciados ou pessoas já minimamente experientes a ir para fora. Porquê? Porque além de não termos uma oferta laboral e salarial competitiva para eles, temos, isso sim, uma carga fiscal elevada e desproporcional face aos rendimentos.
O salário líquido é muito baixo face aos impostos que os trabalhadores pagam e o atual custo de vida no país. Além de algum planeamento realmente estratégico para os próximos anos, o futuro requer ação imediata por parte de todos os stakeholders.
Neste momento, não estamos a conseguir reter o talento que formamos. E por mais otimistas que sejamos enquanto nação, não há realidade que se transforme só com esperança.