Às empresas, que mal sabem como gerir elevadas expectativas com reduzidos recursos, é-lhes dada uma nova agenda para criarem “trabalho digno”, ao mesmo tempo que as suas contas flutuam sob(re) a linha-d’água. Às pessoas, é-lhes dito que continuarão à espera de uma oportunidade até que esta seja para a vida. À verdade é que já não existem empregos para a vida. No mais recente barómetro da IBM, “What Employees Expect in 2021”, confirmou-se que a “estabilidade da empresa” é o fator que as novas gerações menos valorizam.
Neste contexto VUCA, a flexibilidade exige-se tanto às organizações como a quem lhes dá forma. Foi sob este contexto que o mercado de trabalho português se moldou. Num país de sol, boa mesa e igual hospitalidade, especializámo-nos em serviços e turismo, dando uso aos nossos ‘trunfos’. Para que isso fosse possível, a flexibilidade tornou-se o propulsor de uma engrenagem económica que viaja, em parte, à boleia das estações do ano.
É a flexibilidade que dá emprego a mais de 100 mil pessoas por ano e acrescenta quase 700 milhões de euros em impostos aos cofres nacionais.
É também essa flexibilidade que, a muitos jovens, lhes garante a primeira oportunidade, que dá a experiência pedida nos anúncios de emprego. Se quisermos ver o copo pouco cheio, é a flexibilidade que atenua os níveis de desemprego de longa duração. Mais do que pensar em novas imposições laborais, é vital olhar para os efeitos que a crise do último ano teve sobre as empresas e perceber de que forma podemos minimizar os danos. É preciso ouvi-las e, de forma construtiva, colocar a questão que ouvimos nos muitos serviços que prestamos: “Como posso ajudar?”.