O marketing mover-se-á para o centro e não para a periferia das empresas  

Entrevista Joana Gama para Marketeer • mai. 16, 2021

​O mercado de trabalho tem vindo a evoluir, em Portugal, na sequência da digitalização dos negócios e a área do marketing não escapa a esta tendência. A pandemia veio tornar esta mudança ainda mais evidente, mas o caminho já começava ser trilhado antes disso: «Grande parte dos profissionais da área em Portugal considera que o marketing mudou mais nos últimos dois anos do que nos cinquenta anos anteriores», afirma Joana Gama, Marketing manager da Kelly Services Portugal & Benelux.


Em entrevista à Marketeer, a responsável conta que, hoje, há mais de cinco mil ferramentas MarTech – ou seja que recorrem à tecnologia para potenciar objetivos de marketing – contra apenas 240 há cinco anos, por exemplo. Mas como é que este peso da tecnologia está a influenciar as necessidades de contratação das empresas? E, do lado dos profissionais, quais são as novas exigências ao futuro empregador?


Segundo Joana Gama, «as novas gerações têm uma mentalidade prática» e «tendem a valorizar benefícios como a formação contínua, oportunidade de experimentarem diferentes funções, progressão na carreira, mobilidade internacional e um salário digno que lhes permita viver fora de casa dos pais».


A Marketing manager da Kelly Services para Portugal e Benelux desvenda ainda aquilo que poderá ser o futuro dos profissionais de marketing. Depois da tendência da especialização (há 10 anos, as funções eram mais gerais do que hoje), chegará a hora de encarar o marketing como «um facilitador de transformação», que cresce em direcção «ao epicentro da mudança estratégica e transformacional».

Acompanhe a entrevista na íntegra:

Como está a mudar o mercado de trabalho na área do Marketing em Portugal?

Não há como negar, o mundo dos negócios está a mudar – e com ele o mundo do marketing. A mutação no marketing tem sido sustentada pelos enormes avanços tecnológicos. Actualmente, existem mais de 5.000 ferramentas MarTech (que através da tecnologia potenciam as metas e objectivos de marketing) contra apenas 240 nos últimos cinco anos. Grande parte dos profissionais da área em Portugal considera que o marketing mudou mais nos últimos dois anos do que nos cinquenta anos anteriores, as adaptações a este ecossistema em constante mutação têm sido feitas em ritmo “fast-forward” e, por esse motivo, ter uma estratégia de marketing robusta e ágil já não é o suficiente para prosperar neste meio altamente competitivo.

É a forma como nos conectamos com os diferentes públicos e os incentivamos na compra dos nossos produtos e serviços que está em maior transformação. Sabemos que 72% dos utilizadores adultos da Internet etáo no Facebook e que a Internet é o principal canal de conexão e vendas, até aqui nada de novo… Mas será que a maior parte dos líderes de marketing sabe qual a chave para o sucesso?

A melhor forma de entendermos e nos envolvermos com este grande público passará pela contratação de Millennials e jovens, que dominam o conhecimento tecnológico, são enérgicos e navegam nas redes sociais como se fosse a sua segunda pele. Este grupo demográfico tem sido altamente requisitado na integração do mercado de trabalho do marketing, como variável chave para uma vantagem competitiva.

O talento chave no marketing tem-se definido como experiente em tecnologia o suficiente para se adaptar e integrar ao máximo com a variedade de canais de marketing que as empresas utilizam actualmente e inovador o suficiente para olhar para o futuro, propondo novas abordagens.

Tendências emergentes como a inteligência artificial (IA), gamificação e realidade aumentada têm ganho força e as equipas de marketing necessitam de ser capazes de abraçar essas tecnologias e entender como aplicá-las aos seus negócios. Qualquer profissional de marketing que consiga entender as mudanças que estão a correr a nível tecnológico e, mais importante ainda, acompanhar o ritmo dessas mudanças será um poderoso activo para qualquer empresa.

Quais são, neste momento, as funções mais procuradas?

A tendência neste último ano e, tendo em conta o contexto em que nos encontramos, tem assentado na procura de perfis direccionados à área do Marketing Digital. Os candidatos que trabalham nesta área têm tido acesso a um conjunto de oportunidades mais alargado, em que competências específicas, nomeadamente em Analytics e Performance, têm sido muito valorizadas.

E há resposta para esta procura?

Dada a procura exaustiva destes perfis no mercado, tendencialmente, hoje é mais desafiante identificar candidatos totalmente disponíveis no mercado. No entanto, a tendência dos jovens na procura de formação nas áreas de marketing, nomeadamente as especializações direccionadas ao Marketing Digital, têm tido um grande crescimento, ajudando a impulsionar a camada mais júnior das empresas e a potencializar estes recursos dentro das empresas.

Tem-se sentido também uma maior procura na especialização de perfis séniores naquilo que são as tendências de mercado.

Em termos de salário, notam-se diferenças? A escassez de alguns perfis tem influência, por exemplo?

Temos vindo a verificar que as funções ligadas às áreas de marketing têm sofrido alterações ao nível salarial nos últimos anos dado o aumento na procura destes perfis e, desta forma, no crescimento da mais-valia destas posições nas empresas. A par disso, naturalmente que a escassez de alguns perfis, quer seja porque o mercado está saturado ou porque são funções novas que necessitam de tempo para formação e desenvolvimento das suas skills, faz com que o sector de marketing tenha obtido uma valorização ao nível salarial.

Além do salário, que outros benefícios são privilegiados pelas gerações actuais face às anteriores?

A pandemia afectou a forma como as gerações mais novas estão a valorizar benefícios que até então eram mais valorizados pelas gerações mais experientes, nomeadamente o seguro de saúde e vida começam a ganhar relevância. Quando se trata de benefícios preferidos, as novas gerações têm uma mentalidade prática, tendem a valorizar benefícios como a formação contínua, oportunidade de experimentarem diferentes funções, de progressão na carreira, mobilidade internacional e um salário digno que lhes permita viver fora de casa dos pais.

As novas gerações procuram trabalhar para empresas onde haja um maior equilíbrio entre vida profissional e pessoal, sendo os benefícios emocionais muito valorizados especialmente os ligados a conceitos como a flexibilidade (políticas de licença flexíveis, flexibilidade de horários, opções de teletrabalho) e o bem-estar (pagamento da mensalidade do ginásio, número de horas de trabalho semanais).

Estes benefícios emocionais promovem o sentimento de que não é necessário escolher entre ter uma vida e um emprego, ambos são compatíveis.

Mas eu diria que o ponto mais vital, comum a qualquer potencial talento, é o de que as novas gerações simplesmente desejam ser reconhecidas como um grupo diversificado com um amplo conjunto de interesses, qualidades, competências e experiências.

Talvez o benefício mais importante que poderemos oferecer a candidatos das gerações Y seja a disposição para conhecê-los como indivíduos, com necessidades e conjuntos de competências únicas. Uma empresa que demonstre que respeita e conhece os seus colaboradores terá uma fila de candidatos a bater à sua porta para serem contratados, independentemente da sua faixa etária.

Como compara a lista de funções mais procuradas hoje com a de há 10 anos?

As funções mais procuradas actualmente são essencialmente de cariz mais técnico e especializado, envolvendo geralmente competências tecnológicas. Há 10 anos, a abordagem nas funções era mais “generalista”.

E daqui a cinco anos? Ou 10? O que deverá mudar?

Grande parte das profissões de futuro ainda será criada, pelo que é difícil prever as funções que existirão dentro de 10 anos, especialmente na área do Marketing. Mas pelos estudos que tenho acompanhado e pela minha própria experiência como marketeer há 17 anos, creio que o marketing irá prosperar como uma carreira valiosa e cheia de propósito, naquela que se antecipa como a 4.ª revolução industrial.

Os profissionais de marketing não são treinados para uma fórmula universal. Vêm de diversas origens e têm competências multidimensionais. Olhando para o futuro, a fluidez e agilidade dos profissionais de marketing, a sua capacidade histórica de se adaptarem às mudanças, de aprenderem e adquirem novas competências e conhecimentos será inestimável e indispensável para as empresas e organizações.

Então, como será o futuro das funções de marketing? As novas ferramentas tecnológicas permitirão a expansão do mindset do marketing e das suas competências, por várias funções/áreas de negócio. O marketing mover-se-á para o centro e não para a periferia das empresas. A famosa citação do “Pai” do Marketing, Peter Druker, de que «o marketing é demasiado importante para ser deixado apenas no departamento de marketing» tornar se-á realidade.

Muitos tornar-se-ão profissionais de marketing, mas com especialidades distintas. Vejo o marketing como um facilitador de transformação, que se está a afastar rapidamente da sua função de suporte de vendas, já desactualizada, e a direccionar-se ao epicentro da mudança estratégica e transformacional – seja como um impulsionador ou um capacitador nas organizações.

No geral, quais são as competências que qualquer profissional de marketing deve ter?

O círculo de especialização exigido pelo marketing expande-se a cada ano, à medida que as empresas e os mercados se tornam mais complexos e a tecnologia permite mais automação do processo de marketing. A adaptabilidade e a capacidade de aprender novas competências são indispensáveis hoje e no futuro. As competências de marketing core e ditas “tradicionais” continuam a ser: criatividade, data intelligence, desenvolvimento e gestão das mensagens, comunicação oportuna e relevante, segmentação de mercado. Continuam a ser mais procuradas do que nunca, embora actualmente estejam a utilizar formatos e ferramentas diferentes.


O mercado de trabalho tem vindo a evoluir, em Portugal, na sequência da digitalização dos negócios e a área do marketing não escapa a esta tendência. A pandemia veio tornar esta mudança ainda mais evidente, mas o caminho já começava ser trilhado antes disso: «Grande parte dos profissionais da área em Portugal considera que o marketing mudou mais nos últimos dois anos do que nos cinquenta anos anteriores», afirma Joana Gama, Marketing manager da Kelly Services Portugal & Benelux.


Melhores Fornecedores RH 2024 - Kelly Portugal na lista dos premiados.
Por Kelly 22 fev., 2024
Pela 10ª vez consecutiva, a Kelly Services Portugal, pertencente ao grupo Gi Group Holding, é distinguida pela APG – Associação Portuguesa de Gestão das Pessoas como o melhor Fornecedor RH em Portugal. Continuar a ler...
Coluna de opinião
Por Rui Barroso 26 jan., 2024
Um ambiente de trabalho saudável e produtivo é um dos aspetos essenciais para uma equipa trabalhar de forma eficaz e motivada. Compreender a motivação humana é algo já amplamente explorado, como por exemplo na famosa Teoria das Necessidades, de Maslow. Continuar a ler...
Aquisição da atividade europeia da Kelly pela Gi Group Holding .
17 jan., 2024
A Gi Group Holding anunciou dia 3 de janeiro a conclusão bem-sucedida da aquisição da atividade europeia da Kelly (Nasdaq: KELYA, KELYB), um dos principais fornecedores mundiais de soluções especializadas em talentos, tornando-se a maior aquisição na história da Gi Group Holding e aumentando as suas receitas para cinco mil milhões de euros.
Empregados e aborrecidos. Resenteeism é um novo desafio para as empresas
Por Pedro Pessoa, people development manager na Kelly Portugal para o jornal NOVO 15 jan., 2024
Resenteeism: Esta tendência no mercado laboral ocorre quando um funcionário está insatisfeito no seu emprego, externaliza a insatisfação, mas não se demite. “A insatisfação pode estimular resultados distintos”. Saiba como.
Por Joana Gama 13 dez., 2023
Sentir-se inadequado/a é algo comum, especialmente no ambiente de trabalho, onde somos avaliados pelo nosso desempenho. O síndrome do impostor pode se infiltrar nos nossos pensamentos, e fragilizar os nossos esforços e conquistas. Mas existe uma forma de transformar isso em algo poderoso? Veja o artigo completo.
Por Lucélia Silva 05 dez., 2023
Gostaria de saber se a sua carreira está em movimento? Descubra como as férias de inverno podem ser a chave para recarregar, refletir e se preparar para o próximo ano de trabalho. Apresentamos 5 perguntas que precisa de fazer para fazer o diagnóstico profissional e garantir um 2024 alinhado com suas aspirações e necessidades.
Por Dinheiro Vivo 27 nov., 2023
Apesar da remuneração continuar a ter um peso incontornável, os fatores ligados ao bem-estar dos profissionais e à flexibilidade dos modelos de trabalho são cada vez mais alavancas estratégicas para prevenir a fuga de recursos humanos para o exterior.
Descubra como a AI pode ajudá-lo a encontrar emprego
Por Notícias ao Minuto 21 nov., 2023
Descubra como a inteligência artificial (IA) está a revolucionar a forma como procuramos emprego. Neste artigo, revela as diversas maneiras pelas quais a IA está a ser utilizada em processos de recrutamento e como você pode aproveitar essas tecnologias a seu favor. Desde a otimização de currículos até à identificação de oportunidades de trabalho personalizadas, saiba como a IA pode se tornar sua melhor aliada na busca pelo emprego ideal.
Competências pessoais podem ajudar na procura de emprego
Por Kelly 07 nov., 2023
No atual mercado de trabalho ferozmente competitivo, as suas qualificações e experiência profissionais são essenciais, mas há outro fator crítico que o/a pode ajudar a distinguir-se: as suas competências pessoais. Continuar a ler...
Trabalho remoto vs trabalho no escritório
Por Kelly 07 nov., 2023
Nesta publicação do blog, vamos comparar a sustentabilidade ambiental do trabalho remoto e híbrido com o trabalho tradicional de escritório, lançando luz sobre os prós e contras de cada abordagem.
VER MAIS
Share by: