Antes das empresas, as ‘‘ pessoas.” Passámos anos a ver frases como esta refletidas nas iniciativas internas de gigantes como a Google ou o Facebook. Espaços destinados a descanso, flexibilidade horária e geográfica, ou políticas de apoio à maternidade. Deixar de trabalhar durante algumas semanas ou meses, deixou de significar um risco de despedimento.
Passámos anos a invejar empresas como a de Bill Gates para, ao fim de vários anos, chegarmos à conclusão de que este método de trabalho e gestão humana não devia ser exceção, mas sim regra. É isso que nos diz o “Livro Verde sobre o Futuro do Trabalho”, apresentado no final de março aos parceiros sociais pelo Governo. Entre outras medidas, este manual de boas práticas empresariais reforça a importância do “direito a desligar”, torna aceitável a flexibilidade laboral, reforça os incentivos à partilha entre homens e mulheres do gozo de licenças parentais e adequa o sistema de segurança social às novas formas de prestar trabalho. É um documento do futuro, a pensar nas necessidades do presente.
Num mercado laboral cada vez mais versátil e diverso. Mais dinâmico e descomplexado. O novo projeto governativo contempla ainda desafios relacionados com os nómadas digitais, questiona a centralidade da formação e das competências, não esquece o clima, com a representação dos trabalhadores e com o associativismo. A ter em conta deve estar a cor do livro — o facto de ser um Livro Verde e não Branco faz toda a diferença, uma vez que um Livro Verde, apesar de já ter parte do conteúdo definido, continua a ser apenas um documento preparatório e sem método de implementação prevista, ou seja, criado para gerar o debate entre as entidades responsáveis sobre determinado tema.
O Livro Branco, por seu lado, procura materializar as ideias de um homólogo verde, com medidas e respetivos modelos de implementação já definidos. Preferências cromáticas à parte, devemos ter em consideração que este é um tema que nos interessa a todos — tanto a líderes como estagiários. Por isso mesmo, todos nós devemos fazer-nos ouvir e ao Governo e parceiros sociais cabe a função de nos auscultar a todos. Já que se normalizou a ideia de passarmos mais tempo com colegas de trabalho do que com a família, que se encontre um ponto comum que garanta, a todos, um bem-estar social, laboral, psicológico e físico igualmente benéfico tanto no escritório como em casa.
Artigo Expresso Economia, 30 Abril 2021.